
Janeiro de 95, passei um clássico verão mineiro com a família de um vizinho em Guarapari. Entre os tradicionais cd´s em caixas quebradas, trocadas e com o encarte jogado que fazia parte de qualquer viagem familiar antigamente, descobri o “...And Justice For All”. Capa forte e toda branca que destoou em meio a Marisa Monte, Caetano Veloso, Madonna, Mamonas Assassinas. Era o tal Metallica, que até então eu só ouvira falar.
Voltei de lá com minhas primeiras camisetas de banda, Ramones e Sepultura, mas querendo mesmo uma branca, como a capa do disco... praia, blusa branca, balança arrebentada inconscientemente remetendo à situação financeira do Brasil à época (livrai-nos da URV). Cheguei em BH e fui direto procurar saber mais sobre a banda que tinha pedal duplo de metralhadora, “One”, e riff´s viscerais, “Blackened” e “Eye Of The Beholder”, com um vocal sem frescura, pesado mas inteligível. De volta a BH, essa busca durou poucas horas, meu melhor amigo me ligou avisando que tinha comprado o “Black Album”. Ouvimos o disco três vezes seguidas. A primeira escutando, a segunda viajando na arte do encarte e cantando as músicas, a terceira já batendo cabeça junto de um vizinho que não se conteve em ouvir aquela pedrada de tabela. Ah, a camisa?! Morri de inveja quando vi um cara com uma em São João Del Rei mas achei dela preta com o desenho meio azul e prata, do caralho do mesmo jeito mas até então única pra mim, ilusão escancarada dias depois.
Como em 96 a MTV passou a pegar em BH, (muito mal) em UHF, logo tive acesso às faixas do “Ride The Lightning” e do “Kill’Em All” ao assistir aos registros ao vivo de “From Whom The Bells Tolls”, “Fade To Black”, que assim como “Welcome Home (Sanitarium)” e “Enter Sandman”, me fizeram dar mais valor para ‘clips de show’. Afinal estou falando de trechos de um dos cases mais fodas do metal, “Live Shit: Binge and Purge”. Nessa época eu botava o relógio pra despertar e pirava com o Fúria Metal e suas vinhetas com bg de “Metal Militia” e “Seek & Destroy”.
Queria saber de quem foi a idéia de a faixa de abertura do primeiro álbum da banda começar com uma progressão de bateria típica de fim de shows, caso de “Hit The Lights”. Uma das sacadas mais do caralho em produções de metal. Falando daquele que considero um dos discos mais importantes do trash metal, não posso deixar de mencionar as minhas prediletas, “Motorbreath” e “Whiplash”, que me remete à minha primeira fonte de pesquisa musical na rede, www.whiplash.net. Nos festivais de covers sempre tinha uma banda de Metallica, e em todos tinha alguém que soltava uma frase, quase tão clássica como um “toca Raul”, que era: “Eu duvido que eles mandam Master Of Puppets!”. Considerado pelos espinhentos fãs de blusa preta suada um feito de difícil execução.
Parecia que tudo ia bem, até o lançamento do “Load”. A porra do primeiro disco lançado pela banda, depois que passei a curtir o som, era fraco, sem as letras no encarte, com os caras embaitolados de cabelo curto com gel e a capa ainda por cima tinha literalmente a porra do Kirk Hammett com corante. Veio o clip de “Until It Sleeps”, achei meio purpurinado pra uma banda de trash metal, mas o som não era ruim como eu esperava. Além desta primeira música de trabalho salvam-se algumas poucas faixas, “Ain’t My Bitch”, “King Nothing” e “Hero OF The Day”, esta última um rock pra fm´s que a MTV fez funcionar por conta de um clip excelente feito para esta faixa.
Pra provar que a má fase não era passageira, veio o lastimável Reload. A faixa de abertura, “Fuel” é a melhor do disco e talvez por isso tenha merecido seu bom clip, e além dela só se salva “Devil´s Dance”. A primeira música de trabalho, “The Memory Remains” é quase vergonhosa, e a viagem de fazer a tal “The Unforgiven II” foi uma sonora diarréia .
Descobri por acaso com o mesmo amigo do “Black Album” um diamante bruto numa loja daquelas que não existem mais (lembra daquelas de cd?), o primogênito “No Life Till Leather”, com medley de Iron Maiden, AC/DC e afins em áudio de baixa qualidade. Ah, como seria bom se o Metallica voltasse a ser sujo como nos tempos de Dave Mustaine e Cliff Burton. Ufa! Se não havia mais criatividade, pelo menos um resquício de bom senso, um disco duplo de covers. Se tratava do segundo ‘Garage’, antes do Load rolou o “Garage Days”, mas estamos aqui nos referindo ao “Garage Inc.” De lá vieram excelentes versões de “Die Die My Darling” e “last Caress” do Misfits, “Stone Cold Crazy” do cansativo Queen, “Sabba Cadabra” do Black Sabbath e “Whiskey In The Jar” do Thin Lizzy, que foi uma das músicas de trabalho.
Foi na turnê deste disco que finalmente assisti a um show do Metallica. Abriram o show com “Breadfan”, do Budgie (conhecida dos brasileiros por ser a trilha de abertura do “Esporte Espetacular”, da Rede Globo), mas não tocaram as músicas de trabalho. E ninguém achou ruim, porque depois de passar pelo Brasil em 89 e 91, quem iria garantir que em 99 seriam executadas músicas de todos os álbuns, com ênfase para o “Black Album”. Foi sacanagem o som do show de abertura, um dos primeiros feito pelo Sepultura com Derrick Green no Brasil, ter sido boicotado. Pior que isso foi a ausência de telões, sendo o público presente estimado próximo a 70 mil pessoas. Obviamente aconteceram muitos acidentes e pisotear pessoas próximas à grade foi inevitável. Não esqueço também da saptada no peito que fez James Hetfield se levantar do banquinho e interromper “Nothing Else Matters” e de Jason Newstead detonando no backing vocal com as veias do pescoço explodindo. De lembrança guardo também a camiseta oficial da turnê que comprei pra minha coleção, mesmo achando meio paia, adesivos da 89FM do Garage Inc Tour, o envelope do cartão-ingresso de Sampa, e o próprio do Rio, que apesar da cor diferente, teve o escrito Anhembi sobreposto por um adesivo escrito Gávea.
Depois de assistir a um show do Metallica, nada podia ser melhor do que ver eles lançarem um registro ao vivo. Mas com orquestra?! Bom, vá lá, o repertório não é ruim, algumas inéditas no máximo razoáveis, mas onde estaria o vigor? Ok, valeu como experiência, mas já são bons 8 anos de espera por mais um álbum de inéditas fabuloso para ouvir sem saltar uma faixa sequer. Mas isso estava longe de acontecer e a saída de Jason Newstead deixou isso mais claro, por mais que ele nunca tenha sido lá tão relevante na criação das músicas da banda. Na onda do novo suporte midiático, veio o DVD “Some Kind Of Monster”. Cansativo, só serviu para mostrar os problemas que a banda enfrentou e que seus integrantes são chatos e não mais se dão bem.
O regugito ruminado neste DVD de auto-ajuda-narcisista culminou no “St. Anger”, que para muitos é a pior coisa já gravada pelo Metallica (pra mim é tão ruim quanto o “Reload”). Pra não dizermos que nada se salva ali, “Frantic” é uma tentativa, talvez fracassada, de retomada ao peso de antigamente. Mas sem os solos de Kirk, com a caixa seca de Lars, com a apatia vocal de James, sem um legítimo baxista na composição e com backing vocal quase melódico, o disco flerta até com o moderninho e dispensável nu-metal.
2008, finalmente temos de novo prazer em ouvir o que o Metallica tem de novo, saiu o Death Magnetic! Marcando a entrada de Rob Trujillo na composição do trabalho, a sonoridade densa deste disco marca não só o retorno da presença do som de baixo, há anos coadjuvante no Metallica. Gosto muito de Cyanide, traz aos fãs a certeza de que o Metallica ainda pode te comover brutalmente. Coincidência ou não, assim como os melhores álbuns da banda, este disco possui uma faixa instrumental, coisa que não acontecia desde 89. Mas a banda ainda arrisca sonoridades usadas comercialmente por bandas recentes de sucesso único, que com eles não funciona. Que sigam os passos do AC/DC e continuem fazendo mais do mesmo, que nós adoramos e agradecemos, nem precisa melhorar, é só continuar ótimo.
Agora é torcer pra poder assistir a banda me boa fase quebrando tudo ao vivo aqui no Brasil. Não pudemos ver Cliff Burton, mas que o dinamarquês das baquetas e raquetes de tênis, Lars Ulrich e seu comparsa das botas de bico fino, James Hetfield, junto ao pupilo de unhas negras de Joe Satriani, nos prestigiem com Rob Trujillo em mais um show com muitos clássicos, e com melhor estrutura que da última vez. Quiçá em BH?!
Falou pouco e bem...e fez boas observações sobre o som que tanto gostamos... Cuidado ao escrever sobre MEGADETH... eu sei onde voce mora... hehehe...
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